Afinal, tudo se esconde entre sorrisos e gargalhadas.

29
Jun 09

Fazes-me chorar e não imaginas o quão cruel isso é. Achas-te perfeita, e para ti todos os outros são demasiado imperfeitos para conseguir fazer algo. Pensas que deténs a razão no teu poder, que ela nunca te foge da mão. Tens-te como a Rainha do Mundo, mas anuncias-te como escrava de todos. Mesmo que saibas que não tens razão, mesmo sabendo que todos te ajudam. Não entendes nada, não ouves ninguém e não te esforças minimamente por perceber que os outros sofrem com o teu egocentrismo. Não te importas com nada, não te comoves com uma lágrima, para ti não importa se és injusta. Descarregas em mim como se tivesse culpa de todos os teus problemas, esquecendo-te que não tenho, que assim só os agravas ainda mais. Mas de nada me vale tentar explicar-te que nem sempre tens razão, que o mundo não te pertence e não fazes dele o que quiseres. Tu não me ouves, mesmo que te sussurre brandamente. Não ouves nada nem ninguém e fazes os teus próprios juízos, de quem está errado esquecendo-te de que também tu erras. Erras quando fazes distinção entre pessoas, quando mostras gostar mais de uns do que outros quando todos somos iguais. Distingues-nos pelo que temos, pelos nossos pais. Já o fazias com eles. Mas não admites que alguém te diga que estás a ser injusta e que no teu coração todos deveriam ser iguais e não são.

Para ti apenas eu erro, apenas eu sou imperfeita e nada faço. Mas eu sei que não sou perfeita, que erro demasiadas vezes, e que muitas vezes perco por não reagir a quente, mas o mundo magoa-me e tu fazes com que as lágrimas mais amargas percorram a minha face e com que eu não consiga pensar tão rápido para ser capaz de responder pensadamente.
Desculpa se apenas eu sou imperfeita e se ao contrário de ti não consigo ser perfeita, mas nunca te esqueças que o teu maior erro é considerares-te dona de tudo e todos, capaz de fazer tudo e transformar todos, não te esqueças que o teu maior erro é achares-te perfeita!
publicado por filipap às 16:15

30
Mai 09

 

Era mais uma tarde em que estávamos juntos, naquele sofá. Aquele sofá bege, que eu gostava de dizer que tinha a cor do Sol quando está doente. Eu acreditava realmente nisso. E tu, tu estavas sempre a dizer que eu era tonta, uma sonhadora que não parava de imaginar coisas hilariantes. Eu não te ligava, não me importava o que tu dizias. Até que tu percebeste que não me ias afectar, e que eu ficava feliz quando dizias que era uma menina que não parava de sonhar, mas que era a tua menina. E eu acabei por parar de dizer porque tu também já não te importavas que eu o dissesse.
Naquele dia tinhas uma camisola azul. A mesma que tinhas vestida quando nos conhecemos, no vermelho banco de jardim da terra da minha tia. A tua camisola fazia-me lembrar o mar e o céu. E lembrava-me também o sol. E disse-te aquilo que já não dizia há muito tempo. Que o nosso sofá era da cor do sol quando está c  doente! Tu riste-te para mim, de forma doce, daquela forma que eu gostava. Rias-te sempre desta forma quando eu dizia aquilo a que tu chamas “meus disparates”. Disseste que já tinhas saudades da tua sonhadora. Eu olhei para os teus olhos castanhos muito claros a sorrir. Tu puseste a tua mão morena na minha face muito branca. Depois abraçaste-me com muita força. Disseste no meu ouvido que podias ficar ali para sempre. Sabias que me fazias feliz quando dizias isso e tu também gostavas de o dizer. Cada vez que dizias era diferente, como se encontrasses sempre uma forma especial de tocar no meu coração. Era o que melhor sabias fazer. Chegar ao meu coração. Sabias bem como ele sentia, como ele funcionava.
Antes de chegares tinha estado a escrever. Gostavas de ver o que eu escrevia, mas eu não gostava que visses. Tinha apagado todos os vestígios de palavras soltas. Apenas tinha deixado o meu caderno verde, e a minha bolsa roxa. Pegaste no meu caderno e desfolhaste. Já quase não tinha folhas porque arrancava sempre para tu não veres. Procuraste, mas não encontraste, ainda não era naquele momento que ias ler mais um daquilo a que tu chamavas “a minha poesia em prosa”. Pegaste no caderno e na bolsa e foste novamente sentar-te junto de mim. Eu abri a bolsa e escrevi o teu nome numa folha. Querias que eu escrevesse com a caneta azul, da cor da tua camisola. Mas eu quis escrever a cor-de-rosa. Sabias que era a minha cor preferida. Contestaste, disseste que cor-de-rosa não era cor de rapaz. Eu ri-me de ti e disse que era por saber que tu não gostavas que eu tinha escrito daquela cor que para mim era mágica. Tu, que ainda tinhas a caneta azul na mão, riscaste a minha mão. Disse que me ia vingar e que tu não ias gostas. Pediste que não te riscasse com a caneta rosa, como se tivesses lido os meus pensamentos. Levantaste-te do sofá rápido como um trovão. Daqueles que aparecem numa noite com o céu preto, muito escuro. Daqueles que tu sabias que eu morria de medo. Eu fui a correr atrás de ti. Com a minha camisola amarela, esta sim da cor do sol. Como eu gosto daquela cor, dá-me energia. Mas tu e eras demasiado rápido. Sabias bem que eu não te conseguia apanhar. Eu corri. Mas mais uma vez apercebi-me que ara uma luta perdida. Então voltei a sentar-me tranquilamente no sofá. Mas não no nosso. No outro, que não era da cor do sol quando está doente. Era verde, um verde que não era o verde da relva. Era um verde calmo. Claro. Foste sentar-te ao pé de mim, foste dizer-me que eu tinha perdido. Eu escondera a caneta. E quando te sentaste peguei nela e risquei-te. Mas ao fazê-lo cai em cima de ti. Rebolámos e caímos no tapete branco, cor da paz. Ficámos caídos no chão da sala. A rir como tontos.
Quando te levantaste, tentei que não o fizesses, mas disseste que estavas a ficar com frio, que o chão era demasiado frio. Eu sabia bem como tu eras. Friorento como ninguém, e naquela tarde não estava calor. Sentaste-te no nosso sofá com o meu caderno na mão. Chamaste-me. Não quis ir porque sabia que me ias riscar. Mas disseste que podia ir e não me ias fazer mal. Levantei-me e tirei os chinelos. Tinha umas meias amarelas como a minha camisola. Abraçaste-me e, com a minha mão, pegaste numa caneta. Eu tinha canelas de todas as cores. Gostava de colorir. Com cuidado, um cuidado que só tu sabias ter, desenhaste o arco-íris. Naquele fim de tarde. Nunca algo fora tão mágico. Apenas o nosso arco-íris de papel, de todas as cores. Feito com o maior carinho. Da forma mais encantadora.
E terminámos a tarde, enamorados, comigo a dizer que o sofá era da cor do sol quando está doente e tu a dizeres-me que os meus olhos são verdes, da cor do mundo!
 
Texto para a Fábrica de Histórias.
publicado por filipap às 21:37

Junho 2009
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
30


arquivos
mais sobre mim
blogs SAPO